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Artistas segundo o coração de Deus

  • Foto do escritor: Alexandre Santos
    Alexandre Santos
  • 22 de mar.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 24 de mar.

O verdadeiro artista não se contenta apenas em criar, mas ele encontra sua realização na entrega total da sua obra. Sua arte não é apenas uma simples performance, mas ela se torna um lugar de encontro, de doação, onde ele se esvazia.


Assim podemos afirmar que o chamado do artista é um chamado ao esvaziamento. Estar no palco – seja ele qual for – para ele é transbordar tudo o que tem até não ter mais nada para dar. E, nesse esvaziamento total, alcançar a transcendência e elevando aqueles que experimentam da sua arte.



Para mim esse mistério da arte como doação se reflete profundamente no mistério de Cristo na cruz, no calvário. Jesus, na cruz, entregou-se completamente. Ele não reteve nada: deu seu corpo, sua alma, seu amor até a última gota de sangue. E quando o sangue já não bastava, jorrou água – um sinal de que sua entrega foi total, plena, absoluta (Jo 19,34). Ele viveu um esvaziamento total, a Kenosis.


O artista segundo o coração de Deus é aquele que entendeu que o palco é a sua cruz. E nele, como Cristo, que ele se entrega sem reservas. O verdadeiro artista não se apresenta para si mesmo, mas para uma missão maior.


Refletindo sobre essa temática me lembrei do rei Davi, que foi um “pastor segundo o Coração de Deus". Mas ele foi bem além, não foi apenas um rei, mas também um artista, vivendo sua entrega e missão na arte nos diversos momentos da sua vida. Quando tocava harpa para Saul, não era para apenas mostrar a sua técnica, mas para trazer paz e cura a um coração atormentado (1Sm 16,23). Quando escreveu os Salmos, acredito que ele não buscava apenas poesia, mas uma oração viva, que se tornaram tão vivas que ressoam até hoje. E quando ele dançou diante da Arca da Aliança, não se importou com seu status de rei, mas se esvaziou em uma entrega total a Deus (2Sm 6,14).


Assim como nós, Davi não era perfeito aos olhos dos homens, mas sua beleza estava no fato de ser um rei segundo o coração de Deus, alguém que, mesmo com suas quedas, sempre voltava ao Senhor em humildade e entrega, no desejo de cumprir a vontade de Deus.


Por isso quero finalizar essa reflexão relembrando o que nos diz o Catecismo da Igreja Católica n° 766: a Igreja nasceu do lado aberto de Cristo, desse esvaziamento do Cristo na cruz.


"A Igreja nasceu sobretudo do dom total de Cristo para nossa salvação, precedido pela instituição da Eucaristia e realizado na cruz. ‘O início e o crescimento da Igreja foram significados pelo sangue e pela água que saíram do lado aberto de Jesus crucificado’ (LG 3). Pois dali nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja (SC 5). Como Eva foi formada do lado adormecido de Adão, assim a Igreja nasceu do coração traspassado de Cristo morto na cruz".

Cat § 766


Nessa perspectiva compreendemos que a evangelização através da arte é um chamado que nos leva a um constante renascer, pois a arte pode ser essa expressão de vida nova, esse sopro que dá forma ao invisível, que leva as almas a tocarem o transcendente.


Podemos então afirmar que o "Artista segundo o Coração de Deus" é um servidor. Ele aceita se esvaziar para que o outro seja preenchido. Seu talento torna-se uma oferta, sua obra uma oração, sua arte um testemunho da beleza divina.


Que nossa arte seja nosso altar. Que nosso palco seja nossa cruz. Que, ao nos doarmos sem reservas, como Cristo, possamos levar esperança, possamos levar as pessoas ao encontro com o Cristo Ressuscitado.

 

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© 2023 por Alexandre Santos. 

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