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Os cristãos tem medo da arte?

Foto do escritor: Alexandre SantosAlexandre Santos

Nos dias atuais, encontramos muitos cristãos que dizem não gostarem das representações artísticas, especialmente quando ela toca a esfera da fé e da religiosidade. Eles tem muito medo de passar da espiritualidade para a superstição, do sagrado ao profano, do puro ao impuro, da razão para a superficialidade, da sacralidade ao sincretismo. Mas será que esse medo não tem sido empecilho para o crescimento do anuncio da boa nova através da arte?



No espaço musical é o mais evidente

Podemos ver que é no domínio musical, mais precisamente da musica cristã pop contemporânea, que esses debates sobre a arte, o artista cristão, seu lugar, etc; tem sido nas ultimas décadas os mais violentos. Bem porquê nossas liturgias, tempos de orações são sempre acompanhados de música, a musica de uma forma ou outra mesmo é presente no cotidiano da nossa fé. Mas sera que esse medo não tem nos fechado e estamos compondo somente para os cristãos, nos auto alimentando somente, sem que a nossa música tenha uma expressão mais evangelizadora?


Assim podemos ver os inúmeros grupos e/ou cantores jovens que começam com todo entusiamo, com desejo de cantar as experiências com o Cristo, que rapidamente passam mais tempo tentando convencer seus responsáveis do desejo de evangelizar, seja eles padres ou leigos, do que gastando esse tempo e entusiasmo para alcançar as pessoas com a experiência que eles querem transbordar.


Sim, nesses novos projetos podem existir imaturidade, uma visão ainda não tão clara e firmada na fé como gostaríamos, talvez até incapacidades técnicas que precisam ser aprimoradas, mas muitas vezes a estrutura que deveria nos ajudar a crescer, nos acompanhar para amadurecer, a continuar no caminho da progressão cristã, nos bloqueiam seja pela desconfiança e/ou pela burocracia e autorizações necessárias.


Refletindo mais profundamente sobre esse sujeito, é fácil encontrar pessoas que dizem que a arte é uma expressão fantástica da fé, mas quando chegamos no quesito investimento, apreciação, apoio... como é difícil encontrar no meio cristão pessoas capazes de se envolver, acreditar que a pessoa que esta ao meu lado tem um dom a ser transbordado. As pessoas escutam, temos ali uma conversa agradável, simpática e nunca mais voltamos a falar desse projeto. E caso esse projeto consiga se desenvolver, essas mesmas pessoas estão mais aptas a criticar, apontando o que não está bom, do que se colocar disponível para acompanhar e ajudar esse projeto a se aperfeiçoar.


Vocês ja se perguntaram o porque?


O artista é um ser que incomoda.

Mesmo a arte fazendo parte do nosso cotidiano, nem todo mundo é artista. E muitas vezes já olhamos para os artistas com preconceitos formados: "como é difícil compreender um artista, ele é muito sensível, ele não escuta..." Então já somos formatados a dizer que é muito difícil acompanhar um artista dentro das nossas estruturas.


Partindo desse pensamento, desses preconceitos, os responsáveis e lideres cristãos querem enquadrar os artistas em caminhos já previstos dizendo que é assim que devemos fazer, ser, se comportar, etc. E se o artista cristão questiona, ou mesmo sugere outras formas, logo utilizamos a palavra desobediência. Talvez já dissemos ou escutamos frases do tipo: "Ah, precisamos trabalhar a desobediência e a humildade dos nossos artistas.". Mas pouco e quase nunca formamos os nossos artistas sobre criatividade no Espirito, transcendência...


Importante saber, que o artista não incomoda apenas no âmbito cristão. O artista, como criador, incomoda, pois ele traz em si a Imagem clara do DEUS CRIADOR. Um pastor francês, Éric Denimal, escreveu assim: "O artista traz em si a imagem do Criador, pois quando o artista finaliza uma obra, essa é fruto do seu espirito, ela o transcende, e essa transcendência traz um risco enorme. O estranho, o anormal que ele produziu faz dele um estrangeiro, alguém diferente, no qual gera diante de muitos olhares a desconfiança".


E acrescento um trecho da Carta aos Artistas escrita pelo papa João Paulo segundo e promulgada em 04 de abril de 1999:

"Na « criação artística », mais do que em qualquer outra actividade, o homem revela-se como « imagem de Deus », e realiza aquela tarefa, em primeiro lugar plasmando a « matéria » estupenda da sua humanidade e depois exercendo um domínio criativo sobre o universo que o circunda. Com amorosa condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador." (São João Paulo II - Carta aos Artistas, 1999)

E portanto, como eu dizia em uma postagem anterior: O artista é um profeta. Sim, o artista é um perfeito observador do seu tempo, dos homens e mulheres que estão a sua volta, da sociedade e da cultura onde ele vive; e dessa observação nasce uma obra a ser vista, escutada, lida, meditada, admirada ou mesmo a ser recusada. Assim compreendemos um dos versicu Jesus em seu evangelho, "O profeta nunca é bem aceito em seu país".


Algumas justificativas

Sim, podemos ver na nossa sociedade atual algumas expressões artísticas que são imorais. Quantas exposições, representações, composições tentam incultir uma mensagem contraria ao ensinamento de Cristo hoje em nossa sociedade. Dessa percepção nasce esse grande medo que a essa arte que se desvirtuou do belo entre em nossas estruturas.


O artista incomoda

O artista incomoda, pois ele é habitado por uma inquietação. Mas porque a arte em si uma fonte de inquietação? Pois ela impulsiona o artista a mostrar aquilo que ainda não vemos, torna visível e audível, coloca formas, palavras e cores, colocar notas naquilo que se é vivido no hoje, e que por vezes nossas estruturas ainda não pararam para analisar.


Percebemos que na história humana a arte é facilmente confiscada por aqueles que querem contestar, denunciar. Assim compreendemos que a arte não é apenas algo a ser apreciado, ela é também um instrumento de reflexão, de denuncia, ela é um instrumento de transformação. Por isso ele é um meio eficaz de evangelização, como nos diz o documento "A via Pulchritudinis", do conselho Pontifício para a Cultura.


A arte como instrumento de evangelização

A arte é instrumento de propaganda, instrumento de comunicação, ela da sapoio e suporte para lutarmos por uma causa, mas também é utilizada de forma errônea, por vezes utilizada para destruir os valores cristãos, familiares, culturais.

Atrás de uma obra de arte: seja um quadro ou uma música, um escrito ou um escultura se esconde um discurso que procura adeptos. (Éric Denimal)

Por isso é fácil justificar esse medo que trazemos da arte dentro da Igreja e de justifica-lo na desconfiança, sobretudo quando temos duvidas do que ela difunde como mensagem, quando percebemos o aumento de ideologias que querem formatar o espirito da sociedade utilizando por vezes mensagens subliminais.


Eu sempre digo, se a estrutura onde o artista cristão faz parte não confia nele, naquilo que ele pode transbordar, de certa maneira ela desconfia dela mesmo, podemos constatar que provavelmente sua missão catequética pode estar defasada, ou não cumprindo o seu papel de acompanhar a missão.


Portanto, concluo afirmando: a arte é um nobre instrumento de idéias e ideais, é um caminho privilegiado para a evangelização e o dialogo. O artista, como qualquer outra pessoa, quando ele teve um encontro pessoal com o Cristo, quando ele vive uma fé profunda, se ele está bem inserido no corpo de Cristo que é a Igreja, ele transbordará em suas obras aquilo que ele vive, suas experiências tornarão obras de arte.


"De fato, o artista, quando modela uma obra, exprime-se de tal modo a si mesmo que o resultado constitui um reflexo singular do próprio ser, daquilo que ele é e de como o é." (São João Paulo II - Carta aos artistas 1999)

Não tenhamos medo da arte, ao contrário, que possamos permitir que ela seja a linguagem de transformação do mundo que vivemos através da mensagem da Boa Nova, que é o Cristo Vivo e Ressuscitado.

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