Qual a linguagem de DEUS?
- Alexandre Santos
- 8 de mar. de 2023
- 5 min de leitura
Muitas vezes podemos nos perguntar qual a linguagem de Deus, como ele revela sua mensagem!? Até escutamos pessoas dizerem, Deus me falou... Por isso hoje quero compartilhar com vocês essa temática que estudei há alguns meses atrás e que me levou a melhor compreender essa presença de Deus que se faz palavra na humanidade. E para isso convido você a trilhar comigo nas próximas linhas a dinâmica da encarnação prefigurada na Bíblia.

Para falar da linguagem de Deus, como ele fala com a humanidade é importante compreender que o auge dessa linguagem se da na encarnação de Jesus no seio virginal de Maria: "O Verbo se fez carne e habitou entre nós". O Deus palavra, O Deus ação se encarnou, se fez homem para nos salvar, para nos elevar até Ele.
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus" São João 1,1
Para melhor aprofundarmos nessa temática, e compreendermos essa alinaça definitiva d e Jesus e essa linguagem de Jesus no Novo Testamento expressado pelos evangelistas é super importante partirmos do Antigo Testamento.
Deus se faz presente
Podemos perceber já no antigo testamento essa dinâmica da Encarnação, esse movimento pelo qual Deus entra em relação e participa da existência da humanidade.
É no Judaísmo, a religião da transcendência de Deus, onde não podemos nem mesmo pronunciar o nome de Deus com nossos lábios humanos que Deus se manifestou, e suas manifestações se deram de forma humana.
Alguns exemplos:
Gn 1,27: "Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher."
Gn 3,8: "o Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde."
Gn 7,16: "E o Senhor fechou a porta assim que Noé entrou na Arca."
Logo no primeiro livro da Bíblia podemos perceber os traços humanos quando falamos de Deus. Não podemos limitar esses traços como simples fruto de uma imaginação do escritor sagrado, mas com uma forma que Deus utiliza para se comunicar com o seu povo. No livro de Ezequiel, logo no primeiro capítulo, lemos a descrição de uma das suas visões, talvez considerada com uma das mais divina, grandiosas e espiritual do Antigo Testamento, onde ele descreve que no meio de um fogo que consumia tudo "havia uma espécie de trono, semelhante a uma pedra de safira; e, bem no alto dessa espécie de trono, uma silhueta humana." (Ezequiel 1,26)
A Palavra de Deus
Para poder se comunicar conosco, Deus revela sua mensagem em uma linguagem humana. A palavra divina se personifica na palavra humana, aceitando assim seus limites e até mesmo suas imperfeições. Os homens que transmitem a revelação imprimem nelas as marca das suas opiniões, das suas reflexões nessa mensagem a eles confiada. E por isso para melhor compreendermos a mensagem da revelação, é necessário acolher de forma integral aquilo que o autor, seja ele profeta ou simples escritor, nos comunicou em seus escritos, trazendo o contexto em que ela foi escrita, para quem ele estava falando; e nesse aprofundamento descobrir a intenção divina.
Uma palavra que se faz presença
Já no antigo Testamento vemos que Deus se faz presente no meio do seu povo, não simplesmente como uma presença moral de apoio ou simplesmente para proteger Israel. Ela é "uma presença real" : Yahvé se encontra no meio do povo, de uma forma misteriosa, invisível, porém autentica.
Podemos ver essa autenticidade nas duas revelações feitas à Moisés no monte Horeb-Sinai:
A revelação do nome divino: "Eu sou aquele que sou" (Êxodo 3,14),
Revelação da Torah, da lei : Uma lei de santidade, onde Deus exprime seu desejo de santificar, de consagrar o seu povo (Êxodo 20)
Existe, assim, uma presença especial, gratuita de Deus. Ele esta com o seu povo. Não somente quando ele se revelou por duas vezes no alto na montanha, mas porque ele precede o seu povo para conduzi-lo. Aqui podemos falar da encarnação da presença divina: Deus acompanha o povo em seu êxodo. Durante esse tempo o povo de Israel é acompanhado de uma misteriosa coluna, alternativamente de nuvem e de fogo.
"O Senhor ia adiante deles: de dia numa coluna de nuvens para guiá-los pelo caminho; e de noite numa coluna de fogo para alumiá-los; de sorte que podiam marchar de dia e de noite. Nunca a coluna de nuvens deixou de preceder o povo durante o dia, nem a coluna de fogo durante a noite." Êxodo 13, 21-22
A presença de Deus é sinal do chamado particular do povo de Israel. Vivendo como nômades longamente no deserto, por 40 anos, eles viviam em tendas. Para manifestar essa presença, no monte Sinai Moisés recebe a ordem de montar uma tenda para que a "Presença" seja perene. Essa tenda chamada "tenda da reunião" era o reconhecimento dessa presença divina, semelhança à uma presença humana.
Os rabinos chamaram essa presença misteriosa de Deus na tenda de Shekinah, que quer dizer essa presença de Deus em uma tenda que espontâneamente se faz companheiro dos seus, mas que, nenhuma habitação, nem alguma cidade terrestre podem rete-lo, possui-lo.
Grande movimento da revelação
Deus se comunica, o que lemos na Bíblia não é apenas uma informação, um relato, é Deus que nos convida a compartilhar da sua vida. Deus não oferece apenas sua palavra e seu cuidado; ele se doa inteiramente. Na encarnação dessa presença compreendemos que Deus se doa à nós plenamente.
A aliança
A aliança é o elemento fundamental para compreender essa relação de Deus conosco. É impressionante ver que a relação de Deus com o povo de Israel foi construída sob o modelo de um contrato, uma aliança; pois um contrato supõe uma certa igualdade entre as partes, pois precisa existir a reciprocidade de compromissos.
Porém se compararmos já vemos essa incompatibilidade, pois Deus é superior aos homens.
Mas essa aliança proposta por Deus é verdadeira, ela é concebida e descrita como as alianças humanas que exigem um compromisso indissolúvel entre as duas partes.
Porém esse compromisso, implica uma certa encarnação: Para que Deus conclua uma aliança, ele entra deliberadamente em relação com os homens. Deus se coloca no mesmo nível do homem.
Por isso podemos afirmar, que na encarnação do verbo, em Jesus, a aliança é definitiva. Deus se fez homem para nos elevar.

Paternidade
Uma linguagem onde Deus entra de forma mais intima no seio das relações humanas é a linguagem do Pai ao Filho. Na aliança feita com Israel, ja vemos essa paternidade exercida por Deus
"Israel é meu filho primogênito" Êxodo, 4,22
É nesse amor paterno que Ele preside e convoca a existência de Israel como um povo. Falamos aqui de uma filiação, não física, e sim por eleição de Deus. Essa paternidade se manifesta na misericórdia.
"Israel era ainda criança, e já eu o amava, e do Egito chamei meu filho." Oséias, 11,1
A paternidade expressa esse desejo de proximidade que Deus quer ter com o seu povo, revelando os sentimentos intímos de Deus, que se explica pela sua presença e proteção.

União Matrimonial
A união matrimonial é uma outra forma que encontramos no Antigo Testamento para falar da relação afetiva de Yahvé com o povo escolhido. A imagem de esposo e esposa acentuam a vontade de igualdade manifestando assim a intenção da encarnação do Amor Divino, que assume por essa imagem do matrimônio a forma de amor humano considerada a mais intensa.
A nova Aliança
O fracasso da antiga aliança suscita o anuncio profético de uma nova aliança. Como Israel foi infiel aos seus compromissos de aliado, de filho, de esposa; para uma nova aliança é necessário uma ação de Deus que pudesse remediar a fraqueza humana. Nessa nova aliança, Deus não se contenta em simplesmente propor uma lei para obter uma adesão do povo, ele a coloca no interior do homem: "Eu lhe incutirei a minha Lei; eu a gravarei em seu coração" (Jeremias 31, 33)
E essa ação divina forma no homem novas disposições:
"Eu vos darei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne." Ezequiel 36, 26
Essa nova aliança se dá na pessoa de Jesus, o verbo que se fez carne.
E para você ?
Qual a linguagem utilizada por Deus no caminho de salvação que mais você se identifica? Você é um aliado, filho ou tem uma alma esponsal?
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